ÁGUIA
SONHADORA
Autor: Vanildo de
Paiva
Pepe era uma águia muito inquieta. Nasceu entre as montanhas bem no centro da floresta em meio a árvores e copas entrelaçadas e floridas conhecidas apenas pelo sol, pela chuva, pelo vento e pelas estrelas.
No cume daquela montanha há milhões de quilômetros
dali havia uma estrela tímida que certamente surgiu naquela noite, quando Pepe
deixou o aconchego do ovo para enfrentar a desconhecida floresta.
Logo que nasceu as primeiras penas, ele arriscou um voo
ousado do alto do ninho, sem muito sucesso. Mas, algo lá no fundo dizia a ele
que um dia ia conseguir. Quem sabe seria ainda muito feliz...
“Mas, na
verdade, o que é ser feliz?” perguntava-se. Nunca seus pais lhe falaram sobre
isso. E foi assim que Pepe saiu pela floresta em busca da felicidade.
Não custou muito para Pepe perceber que a floresta
era bem maior do que ele pensava... e também muito misteriosa. Foi então que
conheceu um abutre assustador. Sentiu muito medo. Pensou até em fugir, mas se
quisesse mesmo conhecer a vida precisaria ter coragem para enfrentar os seus
muitos medos.
__ Quem é você? __ perguntou.
__ Isso não importa __ respondeu, o abutre.
__ Meu nome é Pepe! Estou procurando a felicidade! Você
pode me dizer onde encontrá-la?
__ Isso não existe, garoto! Você deveria voltar para
sua casa e desistir. Você nasceu e está condenado a morrer. É só isso.
__ “Não pode ser assim, acredito que viver seja mais
do que esperar a morte chegar”
Pepe seguiu seu caminho. De repente um barulho
estranho chamou sua atenção. Olhou para o alto e viu uma ave muito colorida.
__ Que faz aqui? Quem é você? __ perguntou Pepe.
__ O que faço aqui? Você já imaginou como seria feia
esta árvore se eu não existisse. Sou a arara, a ave mais bonita da floresta.
__ Quero tanto ser feliz e você parece saber... Pode
me ensinar?
__ Se você não é feliz jamais será! Existem leis que
nós não podemos mudar. Sou bonita e colorida! Eu nasci assim,
já você, quase não tem cor! Como poderá ser feliz? __ disse isso e voou, na
maior algazarra.
Mas, Pepe, não acreditou na arara:
__É impossível que a vida seja assim! Meus pais
parecem tão felizes e não são tão coloridos! Deve haver outra maneira!
Amanheceu novamente e junto com os primeiros raios
de sol, Pepe escutou o canto de um pássaro. Levantou a cabeça e contemplou uma
linda ave que saudava o dia com toda força e alegria.
___ Oi! Como você é bonito. Como canta com suavidade
e alegria!
___ Faço o melhor que posso. Minha missão é essa. Sou
feliz assim respondeu o canarinho.
___ Que bom que você é feliz, mas o que é a
felicidade? Você pode me ajudar a ser feliz?
___ Tudo que eu sei é que a felicidade é algo que cada
um deve trazer dentro de si para repartir com os outros. Ajudar-lhe eu posso,
cantando um pouco para você. O importante é que cada um possa fazer bem aquilo
que tem como ideal e, cantou como nunca havia cantado antes. Depois partiu.
“Fazer bem o que tem como ideal! Isso é que traz a
felicidade! Mas, qual o meu ideal?”, pensou inquieto. Chegou à noite. Aquela
escuridão lhe fazia ficar com mais medo, mas foi naquela noite que a jovem águia
conheceu uma velha e sábia coruja.
___ Como você é misteriosa! __ exclamou Pepe. ___ já
ouvi dizer que você sabe de tudo. É verdade?
A coruja olhou nos olhos dele com um olhar
penetrante e disse: sim, é verdade, sei até o que você está buscando... então,
ouça bem o meu conselho: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo”. Você
não precisa ir muito longe. O que você procura está bem perto de você e batendo
as asas o deixou pensativo.
Buscando decifrar os segredos da coruja Pepe
caminhou muito, conheceu muitos lugares e aves diferentes, mas parecia que cada
dia ele sabia menos da vida e de si próprio. Até que um dia...
___
Oi o que você faz por aqui? ___ perguntou lhe uma voz desconhecida.
___
Não sei muito bem, respondeu Pepe. Procuro algo que possa me ajudar a descobrir
a felicidade.
___
Meu nome é Vado. Eu nasci nas montanhas algumas luas antes de você... Também
não sei muito sobre a vida, mas vivo intensamente o pouco que sei, afinal a
vida é muito curta.
___
Eu sou Pepe. Já há um bom tempo resolvi conhecer a floresta e buscar a
felicidade, mas não estou muito satisfeito.
__
É preciso tranquilidade e paz para que possamos compreender nossos corações,
amigo. Quem não dá tempo para si mesmo jamais descobrirá o segredo da
felicidade. Mas, conte-me sobre o que você já descobriu ___ Pediu Vado.
Pepe então contou
toda a sua história, falou de seus pais e de como deixou o seu lar. Falou de
todas as aves e animais que conheceu e que marcaram sua vida...
___ Conheci uma
vez, até uma Gaivota! Ela estava chegando do mar, veio falando de homens,
navios, coisas do outro mundo. Tive vontade de ir com ela para conhecer o mar,
mas, ela disse que cada um tem a sua missão e que lá não seria meu lugar! Mas,
onde então é o meu lugar? Que caminho seguir?
E Pepe começou a
chorar...
___ Chore meu amigo
e não tenha vergonha. Quem é capaz de chorar é capaz de sentir a vida e vibrar
com ela.
___ Eu sou muito
complicado. ___ responder Pepe. ___ Desculpe-me.
___ Você não é
complicado, você é você, cada um é único e especial no seu jeito de ser e assim
merece ser compreendido, respeitado e amado.
___ Não busco muita
coisa... Só quero ser feliz. Você é capaz de entender?
___ Sim, Pepe, há
coisas que só vivendo a gente compreende!
___ Mas andei por
todos os cantos da floresta, olhei por todos os lados e não encontrei a
felicidade.
___ Creio que você
não olhou para o lado mais importante. Pense nisto. Agora devo ir.
___ Não se vá! Fique
comigo! Não me deixe só...
___ Eu voltarei! Procure
lembrar-se de tudo o que aconteceu não para lamentar o que perdeu, mas para
colher tanta coisa que foi semeada e que ainda vai florir. E lembre-se disso:
nunca se está só quando se tem um amigo.
Naquela noite Pepe não dormiu, procurou fazer
como seu amigo lhe disse. Foi a noite mais longa de sua vida e talvez a mais
importante também. No outro dia, Vado retornou logo que o sol nasceu.
___ Olá Pepe! Senti
saudades.
___ Oi amigo! .Pensei
muito está noite e cheguei a uma conclusão....
____ Diga-me Pepe,
estou curioso.
____ Sabe Vado, você
tinha razão quando disse que havia um lado para onde eu ainda não tinha olhado
na minha busca pela felicidade! Para dentro de mim mesmo. Talvez tivesse medo
de me decepcionar mais uma vez e, por isso, buscava longe o que estava perto de
mim. Agora sei que muitos podem me ajudar e me dar alegria, mas se eu não me
ajudar, não me aceitar, nunca saberei acolher o bem que os outros me fazem. Felicidade
depende de cada um saber o que pode fazer de sua vida. Agora eu sei que sou
águia, preciso voar bem alto como os meus pais, como você. Se lá em cima eu não
ficar, águia não serei.
___ Você está certo
Pepe, mas você deve saber que não é fácil, precisará de muito esforço.
___ Sei disso Vado,
mas tenho uma grande força dentro de mim e agora tenho um ideal. Além de tudo,
tenho amigos como você que me estimulam a seguir sempre em frente sem desanimar.
E conversaram
longamente. Vado partiu, mas ficou no coração de Pepe. Depois de muitos dias de
tentativas, Pepe conseguiu voar. Aperfeiçoou-se bastante até que subiu muito
alto e seus pais perderam-no de vista. Hoje, é uma águia muito feliz que às
vezes confunde-se com a mais linda estrela que brilha no céu.
Fim!
Felicidade em excesso pode ser ruim? (Clique aqui e saiba mais sobre o assunto)
Esta postagem não contém todo o enredo do livro que pode ser adquirido na livraria Paulus.
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